terça-feira, 17 de setembro de 2013



Sentei sozinho para tomar meu café expresso de cada dia e, entre um gole e outro dessa dádiva estimulante, parei para observar os mínimos detalhes do pedaço de mundo no qual estava inserido naquele instante. Ao meu redor, vi os passos apressados de muitos engravatados, que certamente nem sabiam o motivo real de tanta pressa. Avistei um cachorro de pêlo macio e, por alguns segundos, invejei a vida fácil daquele canídeo de focinho aparentemente saudável. Olhei para a mesa ao lado e lá fixei o olhar. Estava diante de uma cena comum e característica dos novos tempos: um casal convivendo estupidamente calado, cujos corpos estavam presentes e as mentes certamente mergulhadas no infinito universo dos smartphones que portavam.
Não conseguia parar de olhar diretamente para aquele quadro urbano gelado. Pedi mais um café e, durante ininterruptos quinze minutos, não houve nenhum sinal de interação real entre aquelas duas mãos digitadoras, olhos vidrados e bocas lacradas. Permaneceram juntos, porém visivelmente distantes. Pediram a conta e seguiram em frente, cada qual para um lado. Ela colocou o iPhone 5 na bolsa, e ele, seu Galaxy S III no bolso. Certamente, dirão ao pessoal do trabalho que tiveram uma ótima manhã e que, naquele dia, tiveram o prazer de tomar café da manhã com seus respectivos amados. Mas eu estava lá, vi com meus próprios globos oculares e posso dizer sem medo de mentir: eles não estavam juntos! Ela comeu o pão na chapa na provável companhia do Mr. Facebook, e ele fotografou a xícara de café com leite para provavelmente informar ao Sr. Instagram.
Zuckerberg, Steve Jobs e Bill Gates contribuíram muito para inserção de muitos pixels nas veias de muitos relacionamentos modernos, mas não podem levar toda a culpa pela aceitação generalizada da falsa sensação de proximidade promovida pelos atalhos digitais. Somos responsáveis, também, por acharmos que 140 caracteres são suficientes para acelerar o coração de alguém. Somos autores diários desses amores sem tato e sem gosto, que se alimentam do toque de teclas e não dos lábios. Não podemos jogar todos esses megabytes de culpa no colo daqueles que criaram esses inventos incríveis.
Não acho que devemos deixar os benefícios da tecnologia de lado ou que precisamos abrir mão da modernidade e voltar às trevas das cavernas sem Wi-Fi. Nada disso. Só penso que nem o maior dos cientistas será capaz de inventar um atalho capaz de descartar a mistura de dois corpos em um quarto, quando o intuito é o contato real. Sei que o mundo ainda irá evoluir de forma surpreendente, mas sei também que um amor nunca poderá ser apagado com um simples “Ctrl + Alt + Del”. Até acho que conquistaremos outros planetas e que romperemos o limite de nossa galáxia, mas tenho certeza de que, mesmo a anos luz daqui, o tesão nunca poderá ser copiado e depois colado com a ajuda de um teclado.
Preste bastante atenção nos seus atos. Talvez, você não esteja percebendo o quanto as plataformas tecnológicas feitas para aproximar estão distanciando a sua pele da dele. SMS, e-mails e redes sociais são meios eficientes para o contato entre dois corpos que no momento não podem estar juntos, mas nunca, de forma alguma, esse tipo de contato poderá substituir a língua falada pelo nó entre duas línguas.
O amor de verdade sobrevive à falta de luz, à falta de bateria, à falta de ambientes com W-Fi. O amor de verdade só morre quando falta um coração.
Ricardo Coiro

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