segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014



Eu tenho uma notícia não muito boa pra te dar. Meu amigo, você foi um grandíssimo filho da puta com ela, pelo o que parece. Não sei muito bem da história, mas sei dela. Sei que ela se escondeu de todo mundo por uns dias e chorou tanto que o rosto ficou inchado e os irmãos mais novos tinham medo de que ela morresse de alguma doença que transforma os outros em zumbis. E ainda tem o fato de que ela nunca soube lidar direito com rejeições amorosas. Ah, a menina é linda e mimada, você esperava o que? Ela é bem do tipinho que esnoba, esnoba e esnoba mais um pouco. Até que aparece um imbecil qualquer e se desinteressa por ela. Esse ponto da história é importante, veja bem: você se desinteressou por ela. Não houve interesse imediato e muito menos falta de interesse. Foi aquela coisa de olhar e pensar “bonitinha, arrumadinha, todo mundo quer, mas e daí”? Mal sabe você como essas gurias têm um faro aguçado para o desinteresse nos dias de hoje, meu amigo. E daí você cruzou a história dela.
Não sei muito bem o que ela pensou na hora. O relato não diz muito sobre isso. Mas eu sei que ela viu alguma coisa em você que lembrava um pouco dos babacas por quem ela já se apaixonou. Meu amigo, você não sabia nada sobre ela, não é mesmo? Aquela guria devia estar na faculdade ainda enquanto você já tocava violão, guitarra e baixo e ouvia um pouco de folk britânico nos finais de semana. Ela devia se preocupar em estudar para alguma prova enquanto você já pensava em como ganhar a vida e pagar o aluguel do seu apartamento. Pode falar a verdade aqui: aquele papinho de que ela era a mulher perfeita pra você era só porque ela te tirava do tédio, não era? Bom, foi o que ela disse. Mas ela limpou o rosto depois do episódio com os irmãos e a coisa toda de zumbis. E olha, parece que até viajou pela Europa pra aproveitar o clichê todo que foi ter que te esquecer.
Cá entre nós: o que você fez pra ela? Ah, sim, seu crime inafiançável foi a insensibilidade. Teu problema foi querer e querer e querer e nunca estar satisfeito com nada. Cruel, hein rapaz. Isso não se faz com mulher nenhuma. E você foi tão idiota em não perceber que foi uma baita sorte encontrar com ela por aí e ela ainda te notar. Agora ela já voltou e disse que não precisa mais de você. E você não deixou nenhuma marca, cicatriz ou sequela. Ela me disse que vai achar um cara legal que queira alguma coisa. Esperança bonita a dessa garota, hein.
E ela não era do tipo pra se conformar, meu amigo. Era do tipo que rendia uma história, dois livros e muitas noites bem vividas. Babaca! Opa, usei a exclamação sem querer. Veja só, ela anda melhor que antes. De infantil a mulher crescida. Nada que uma decepçãozinha não faça. Os pais se espantaram quando a menina mimada decidiu se formar logo e bancou o próprio apartamento. Não se fez de difícil pra vida, não. Levantou, sacudiu a poeira e pegou a liberdade dela. E tem encontrado caras legais e histórias fantásticas por aí. Bem, isso é o que diz essa carta que eu encontrei dentro de um livro na biblioteca. Não conheço a menina, mas pelo o que ela me diz aqui, ela está bem melhor agora. E quem perdeu foi você, meu amigo. Você acaba de descobrir que perdeu a mulher da sua vida
Daniel Bovolento

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