Isso me lembra os bailinhos da quinta série, sabe? As meninas levavam um prato de doce ou salgado, e os meninos uma garrafa de coca-cola de 2 litros. Aí as garotas ficavam sentadas no salão, uma do lado da outra, enquanto rolava alguma música pop romantiquinha grudenta dos anos 90 – provavelmente “More Than Words” ou ‘Iris” – e esperavam que os meninos, timidamente, caminhassem em sua direção e puxassem-nas pela mão para dançar o dois-pra-lá-dois-pra-cá com aquele combo desajeitado de mãos no ombrinho/mãos na cintura. Ou seja, eram eles que tinham o poder de escolha. A nós restava apenas ficar parada como uma estátua em exposição, usando a força do pensamento, mentalizando o nome do garoto paquerado e torcendo para que ele nos escolhesse – o que raramente acontecia.
Agora a coisa mudou: podemos continuar sendo conquistadas, mas também somos capazes de conquistar. E isso é uma evolução tanto para as mulheres quanto para os homens. Afinal, eles devem se sentir aliviados por não carregar mais o peso nas costas de sempre caber a eles ter que tomar a iniciativa. Não que busquemos como ideal a inversão total dos papéis – longe disso. O que almejamos é a construção de novos papéis, nos quais homens e mulheres possam exercer seus desejos de forma livre e igualitária. E que a mulher não seja subjulgada por romper com o papel que lhe foi imposto e que não lhe cabe mais. Mas será que conseguimos mesmo exercer esses nossos desejos? O grande problema é que, sempre que você chega em alguém, a possibilidade de tomar um fora é iminente. E nem todas as mulheres sabem lidar com essa variável.
Já escutei de várias amigas a clássica indignação após um toco tomado: “Acredita que ele me dispensou?”, proferida com um tom incrédulo típico de quem se esquece da pequena variável citada acima. Peraí: assim como quando um cara chega em você e você tem o direito de dar ou não abertura e querer algo mais, o inverso também é válido. Não é porque temos a iniciativa que estamos imunes de quebrar a cara. E com isso, cai abaixo a teoria de que “chegar em homem é fácil, porque, se você for minimamente bonitinha, você não leva fora”. Então quer dizer que o homem deve aceitar qualquer par de peitos que bater à porta? E os sentimentos e compromissos que, assim como qualquer ser humano, eles também têm?
O que muitas mulheres não entendem é que é preciso maturidade para lidar com a rejeição. Talvez, um agravante histórico que influencie nessa falta de preparo feminina ao encarar o monstro da rejeição seja todos os anos em que a mulher interpretava o papel de donzela indefesa presa no castelo esperando pelo príncipe que iria resgatá-la. No posto de “ser conquistada”, era a mulher que rejeitava, ela que decretava o “não” quando achava oportuno. Além disso, a recusa dela também era parte do jogo de conquista, era parte do “charme” bancar a difícil. Agora, além de desfrutar o bônus, elas tem que aprender a lidar com o ônus do feminismo. Não basta criar coragem o suficiente para chegar em um cara, é preciso também maturidade emocional, plenitude espiritual e autoestima elevada para segurar o possível “não”. Tudo resume-se um uma palavra: segurança. A mulher tem que estar segura de si e saber que escutar um “não” não significa o fim do mundo.
Te broxei de qualquer tentativa de tomar a iniciativa? Não fica assim, não. O monstro da rejeição nem é tão feio quanto o pintam. Aliás, a beleza de todo o início da ~fase da sedução~ está exatamente na incerteza das mãos geladas e trêmulas de um coração ansioso. Fala verdade, o que seria do friozinho na barriga, na hora da conquista, se você já soubesse que a resposta final seria um “sim”?
Lais Montagnana
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