domingo, 7 de abril de 2013



Foi-se o tempo em que nós, mulheres, éramos escolhidas, mas nunca podíamos escolher. Hoje já é mais que natural: se uma mulher tiver vontade, ela pode – ou melhor, deve – chegar em um cara. Afinal, é uma delícia tomar a iniciativa. Mais que um deleite, é uma conquista. Mais ação, menos força do pensamento. Menos mandinga, simpatia ou qualquer coisa que traga o ser amado em menos de sete dias. Temos e podemos usar nossas lindas pernas com meia-calça fio 20 e salto 15 para caminhar e ir atrás do que queremos. Porque, antigamente, com as regras morais que nos haviam sido impostas, dependíamos totalmente das forças da natureza para que algo acontecesse.
Isso me lembra os bailinhos da quinta série, sabe? As meninas levavam um prato de doce ou salgado, e os meninos uma garrafa de coca-cola de 2 litros. Aí as garotas ficavam sentadas no salão, uma do lado da outra, enquanto rolava alguma música pop romantiquinha grudenta dos anos 90 – provavelmente “More Than Words” ou ‘Iris” – e esperavam que os meninos, timidamente, caminhassem em sua direção e puxassem-nas pela mão para dançar o dois-pra-lá-dois-pra-cá com aquele combo desajeitado de mãos no ombrinho/mãos na cintura. Ou seja, eram eles que tinham o poder de escolha. A nós restava apenas ficar parada como uma estátua em exposição, usando a força do pensamento, mentalizando o nome do garoto paquerado e torcendo para que ele nos escolhesse – o que raramente acontecia.
Agora a coisa mudou: podemos continuar sendo conquistadas, mas também somos capazes de conquistar. E isso é uma evolução tanto para as mulheres quanto para os homens. Afinal, eles devem se sentir aliviados por não carregar mais o peso nas costas de sempre caber a eles ter que tomar a iniciativa. Não que busquemos como ideal a inversão total dos papéis – longe disso. O que almejamos é a construção de novos papéis, nos quais homens e mulheres possam exercer seus desejos de forma livre e igualitária. E que a mulher não seja subjulgada por romper com o papel que lhe foi imposto e que não lhe cabe mais. Mas será que conseguimos mesmo exercer esses nossos desejos? O grande problema é que, sempre que você chega em alguém, a possibilidade de tomar um fora é iminente. E nem todas as mulheres sabem lidar com essa variável.
Já escutei de várias amigas a clássica indignação após um toco tomado: “Acredita que ele me dispensou?”, proferida com um tom incrédulo típico de quem se esquece da pequena variável citada acima. Peraí: assim como quando um cara chega em você e você tem o direito de dar ou não abertura e querer algo mais, o inverso também é válido. Não é porque temos a iniciativa que estamos imunes de quebrar a cara. E com isso, cai abaixo a teoria de que “chegar em homem é fácil, porque, se você for minimamente bonitinha, você não leva fora”. Então quer dizer que o homem deve aceitar qualquer par de peitos que bater à porta? E os sentimentos e compromissos que, assim como qualquer ser humano, eles também têm?
O que muitas mulheres não entendem é que é preciso maturidade para lidar com a rejeição. Talvez, um agravante histórico que influencie nessa falta de preparo feminina ao encarar o monstro da rejeição seja todos os anos em que a mulher interpretava o papel de donzela indefesa presa no castelo esperando pelo príncipe que iria resgatá-la. No posto de “ser conquistada”, era a mulher que rejeitava, ela que decretava o “não” quando achava oportuno. Além disso, a recusa dela também era parte do jogo de conquista, era parte do “charme” bancar a difícil. Agora, além de desfrutar o bônus, elas tem que aprender a lidar com o ônus do feminismo. Não basta criar coragem o suficiente para chegar em um cara, é preciso também maturidade emocional, plenitude espiritual e autoestima elevada para segurar o possível “não”. Tudo resume-se um uma palavra: segurança. A mulher tem que estar segura de si e saber que escutar um “não” não significa o fim do mundo.
Te broxei de qualquer tentativa de tomar a iniciativa? Não fica assim, não. O monstro da rejeição nem é tão feio quanto o pintam. Aliás, a beleza de todo o início da ~fase da sedução~ está exatamente na incerteza das mãos geladas e trêmulas de um coração ansioso. Fala verdade, o que seria do friozinho na barriga, na hora da conquista, se você já soubesse que a resposta final seria um “sim”?
Lais Montagnana

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