quarta-feira, 7 de novembro de 2012


Generosidade não é oferecer presentes, mas saber recebê-los. Quando alguém nos dá algo que a gente queria muito, sabe o que falamos?
— Não precisava.
 Por que mentimos?
Deveríamos dizer:
— Precisava sim, estava esperando tanto.
Isso demonstra uma dificuldade geral para ganhar elogios. Uma incompetência para ser feliz direto, de primeira, sem coitadismo, sempre temos que fazer charme e beiço e fingir que somos desimportantes. Não acreditamos no elogio. Pensamos que é interesse, oportunismo, falsidade, exagero.
Se uma estranha recebe meu elogio, já julga que é cantada.
Se a namorada recebe meu elogio, já julga que quero sexo.
 Se o filho me elogia de repente, eu já julgo que é pedido de dinheiro.
Mania de menosprezar o amor simplesmente porque não nos sentimos merecedores do amor.
 As mulheres são as rainhas da culpa. Quer ver? Encontro uma amiga no elevador e comento despretensiosamente:
— Que camisa linda!
Em vez de agradecer, ela vai se desculpar:
— Comprei barato numa liquidação.
Repare, eu não perguntei nada. Mas ela continua se justificando:
— Foi na loja Antonia Guedes, ali no Moinhos de Vento.
Ela é capaz de me dar o endereço, informar o nome da vendedora, o preço, tudo para não se sentir linda. Por isso, hoje aceite o elogio com sinceridade.
E diga apenas: obrigado, obrigado, obrigado!
Fabrício Carpinejar

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