segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Por mais de dez vezes, eu não aceitei uma cerveja só pra mim. Quis ficar a noite inteira bebericando da sua. Encostando minha boca onde você encostava a sua. Eu joguei minha pulseira, pra brincar de te laçar, e você pegou minha mão e segurou tão forte. E a gente torceu pro restante da festa ficar fumando uma eternidade na sacadinha. E a gente falou junto “e agora”? Olhei pro céu e pedi, mesmo sendo difícil de ver céu em São Paulo, pra dessa vez existir algum espaço nesse mundo tão pontiagudo, para eu passar com minha bola gigante de sonhos sem murchar como um palhaço estufado. Sem ser espetada por crianças que cresceram e aprenderam a ser cínicas. Pra dessa vez, só porque você usava camisa xadrez justa com bermuda e chinelo e eu sentia tanto amor, eu não ser uma bexiga de festa rasgada vagando por um céu cinza. Pedi pra durar a pureza. Será que eu te conto? Depois disso e até hoje, no final de todo beijo tem a saudade do seu. No final de todo abraço tem a saudade do seu. No final de toda conversa tem a saudade da sua voz, sempre entre o genial e o tradicional, o menino artista e burocrático. O menino louco e ponderado. Você não tem ideia, você não imagina, essas noites sozinha aqui, com Jens Lekman, Feist e Magnetic Fields. Nem temos uma música, todas emprestamos das suas outras relações. Nem temos uma história, todas eu imaginei, todas a gente só pensou. Nem tenho você, mas você não imagina. A falta que faz o que você podia ser. É isso. A falta que faz o que a gente podia ter sido. Aquele dia que eu te liguei e expliquei que ia acabar tudo porque eu estava gostando demais de você. E daí, meu exagero, essa coisa toda que faço, que me ultrapassa, que eu própria não aguento, que me faz querer explodir tudo pra poder voltar a respirar e saber quem eu sou e o que estou fazendo. O egoísmo de não suportar sentir o que não acaba quando eu mandar. E você me mandou a música do tornado e disse que tudo bem. This tornado loves you. Cansei do meu orgulho cheio de ocos e ecos e secos. Então eu queria dizer como era enorme isso tudo dentro de mim. E como ainda é. Como eu levei duas multas dirigindo na contramão pra poder te dizer tchau da última vez, você nem queria me dar tchau. E te pedir desculpas porque não consegui olhar quando você entrou no táxi. Eu não consegui gostar de você de tanto que eu gostava e isso não merece chances ou palmas. Cansei de só sentir se for maior do que eu justamente pra dar a desculpa que, por ser maior do que eu, não posso sentir. É o jogo macabro que faço comigo pra nunca sair do mesmo lugar mas me dizer romântica. Eu não sou romântica, eu sou burra. Medrosa. Só isso. As coisas que eu amo são como uma borboleta que eu acho tão linda, tão linda, tão linda que quero engolir as asas e apertar contra o peito e lamber as cores e pegar carona com meu peso e tudo acaba sem ar, sem voo, sem cor, sem ser borboleta.
Tati Bernardi

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