Meu amigo Pedro Borges saiu com uma mulher linda, inteligente, culta, maravilhosa, gostosa. Perguntei: — E aí, como foi? Ele lamentou: — Não aguentei tanta sinceridade. — O que ela fez? — Contou que estava com 37 anos e não podia esperar mais para ter um filho. O colega gelou, e naturalmente desapareceu, sumiu, escapou pelos fundos do bar. Sinceridade não assusta, o que assusta é a falta de jeito. Falar que deseja um filho logo de saída não é sinceridade, mas atentado, terrorismo, assalto emocional. Assim como anunciar que pretende casar de cara. Ou que agendou encontro para apresentar os pais no dia seguinte. Qualquer pessoa normal não vai se envolver. Amor não é carreira, o primeiro encontro não é entrevista de emprego onde confessamos nossas aspirações e metas. O certo é conhecer, depois planejar. Sinceridade não é dizer à toa, sem contexto, é aguardar o momento, o assunto, a deixa. Não é expor direto, quando está a fim, mas quando a outra pessoa também pode ouvir e entender. É o encontro de duas vontades. Sinceridade não é se livrar de nossos medos e falar o que vem à cabeça. Não, o nome disso é precipitação. É preguiça de se apresentar, de criar intimidade e de atravessar todo o caminho do pensamento. É procurar chegar sem viajar, desembarcar sem se deslocar. É se livrar da tarefa da conversa. Sinceridade mesmo é cuidar daquilo que se fala. Não atropelar as pessoas com as nossas idealizações. Despejar nossa vontade não é sinceridade, mas pancadaria. Mulher quer preliminar no sexo, homem quer preliminar na conversa.
Fabrício Carpinejar
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